Microbiota equilibrada. O que é isso? O que fazer para conseguir uma Microbiota saudável?

Uma das melhores formas de perceber o que é a microbiota intestinal é imaginar uma grande cidade em plena hora de ponta.

Microbiota

Uma das melhores formas de perceber o que é a microbiota intestinal é imaginar uma grande cidade em plena hora de ponta. Os de micro-organismos que vivem no interior do corpo humano, não só bactérias, mas também fungos, parasitas e vírus, são os habitantes dessa metrópole imaginária, numa azáfama constante que contribui para o nosso bem-estar. Estes micro-organismos desempenham papéis cruciais na determinação do modo como o organismo responde a desafios tão diferentes como a má nutrição ou até o cancro. Este conjunto de micro-organismos designa-se de Microbiota, e é essencial para a nossa saúde. 

O Início 

A evidência actual sugere que a nossa microbiota pode começar a surgir ainda durante a gravidez, mas é no momento do nascimento e ao longo dos primeiros meses de vida que se irá desenvolver, sendo modelada por factores ambientais e genéticos. No período perinatal a microbiota do bebé é estreitamente relacionada com a microbiota materna. São factores determinantes neste período o tipo de parto (vaginal vs cesariana), a idade gestacional no momento do nascimento (prematuros vs termo) e a alimentação do bebé (amamentação). As doenças que o bebé adquire, bem como o uso de antibióticos, também moldam a sua flora.  

Função da microbiota: 

A nossa microbiota interage de forma simbiótica com o intestino (mucosa intestinal), desempenhando um papel fundamental na nossa nutrição e processo digestivo (p. ex. promovendo a digestão e absorção de determinados tipos de alimentos e sintetizando alguns nutrientes e vitaminas essenciais), na nossa imunidade (na defesa contra agentes patogénicos / microrganismos prejudiciais, na promoção da barreira intestinal, na regulação e ensino do sistema imunitário), na interacção com o sistema nervoso central (eixo intestino-cérebro) e até no funcionamento de alguns medicamentos, na modulação do comportamento e ritmo circadiano.  


Desequilíbrio da microbiota intestinal:  Disbiose

Antibióticos:

Os antibióticos são uma arma fundamental no combate às infeções bacterianas, salvando muitas vidas. Contudo, combatem tanto as bactérias nocivas como as que têm funções importantes para o normal funcionamento do organismo e que se encontram, na sua grande maioria, no nosso intestino. Sabemos que os antibióticos causam alterações na composição da microbiota que podem ser temporárias ou de longo prazo. Este efeito é mais preocupante com o uso prolongado ou recorrente de antibióticos, mas mesmo tratamentos curtos (1 semana) podem estar associados a alterações prolongadas da flora (anos depois). O uso de probióticos, microorganismos vivos que são benéficos para a saúde humana, pode ajudar a prevenir ou minimizar o impacto negativo dos antibióticos na microbiota intestinal

Dieta

O adágio “somos o que comemos” descreve bem a importância da dieta no microbioma intestinal. A alimentação é um dos factores mais importantes para o equilíbrio da flora intestinal. Na infância, o aleitamento materno favorece o desenvolvimento de uma flora intestinal equilibrada. Na vida adulta, as fibras são o elemento mais importante para uma flora saudável, sendo a fibra solúvel a mais benéfica.  A ingestão de alimentos processados e um excesso de hidratos de carbono também afecta negativamente a flora intestinal. Alguns estudos relacionam alterações na flora causada por uma dieta rica em gordura e em açúcar com doenças como a obesidade, diabetes mellitus tipo 2 e doenças inflamatórias intestinais.


Microbiota saudável, o que fazer? 

Uma alimentação variada, rica em legumes, vegetais e cerais integrais, e com poucos alimentos processados, fritos ou açucarados, é fundamental para uma microbiota saudável e diversificada. Alimentos ricos em fibras, como aveia, linhaça ou feijão ajudam a manter o bom desenvolvimento das bactérias intestinais. Também alimentos fermentados, como o iogurte ou o kefir, estimulam uma microbiota saudável. Vários estudos mostram que a diversidade do microbioma é maior em áreas rurais de África e da América do Sul do que na Europa e na América do Norte, algo que parece estar relacionado com as diferentes dietas adoptadas nestes locais. 

Como recuperar uma microbiota saudável ou repor as suas funções?  

  • Probióticos: São micro-organismos vivos, geralmente bactérias, que têm uma função benéfica para a saúde quando consumidos. Estão presentes em alguns alimentos (como o iogurte, kombucha, kimchi ou o chucrute) ou em suplementos. Dado que não colonizam permanentemente o nosso intestino, são particularmente importantes para a reposição de uma flora alterada, nomeadamente para a reposição de funções específicas da microbiota (produção de agentes antimicrobianos e fatores bacterianos que ativam o sistema imune, promoção da competição direta com potenciais patogénicos). 
  • Prebióticos – São compostos, sobretudo fibras alimentares ou açucares complexos, que promovem o crescimento de bactérias intestinais benéficas, uma vez que o intestino humano não as consegue digerir, mas as bactérias conseguem. O seu consumo foi associado a diminuição dos níveis de insulina, triglicéridos e colesterol, podendo ter efeitos benéficos na prevenção da diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares e obesidade. Contudo, uma ingestão elevada de alimentos prebióticos pode levar uma produção de gás intestinal excessiva (gerando flatulência e distensão abdominal), pelo que indivíduos com sensibilidades gastrointestinais como o intestino irritável devem introduzir estes alimentos em pequenas quantidades e gradualmente. Com o uso continuado, a tolerância melhora, permitindo muitas vezes ultrapassar algum desconforto inicial.  
  • Transplante fecal: – Corresponde à transferência de material fecal de um dador saudável para um recetor que apresenta uma microbiota alterada. É usado apenas em circunstâncias muito específicas, por indicação médica, para tratamento de situações como infecções resistentes a outro tipo de tratamentos (p. ex. Clostridium difficile). 

Tem-se assistido a um aumento significativo dos estudos sobre a microbiota intestinal, pois cada vez mais existe a percepção  de que os microrganismos comensais que constituem a microbiota não são apenas simples passageiros no intestino, mas desenvolvem funções relevantes no hospedeiro.  

Disbioses na composição e função da microbiota intestinal têm sido associadas a patologias do foro gastrointestinal e não-gastrointestinal. Com a compreensão dos mecanismos e modo de ação da microbiota nestas doenças, perspetiva-se o desenvolvimento de novas terapêuticas e estratégias para modular a microbiota, com o fim de tratar e/ou prevenir essas patologias.  

Referências Bibliográficas 

Marchesi JR, Adams DH, Fava F, Hermes GDA, Hirschfield GM, Hold G, et al. The gut microbiota and host health: a new clinical frontier. Gut. 2015;0:1–10 

Tojo R, Suárez A, Clemente MG, Reyes-Gavilán CG, Margolles A, Gueimonde M, et al. Intestinal microbiota in health and disease: Role of bifidobacteria in gut homeostasis. World J Gastroenterol. 2014;20(41):15163–176 

Prof.ª Karina Xavier, investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência, palestra CCB 17 Maio 2019 

https://saudeonline.pt/dieta-pobre-em-fibras-tornando-intestino-mais-permeavel-a-infecoes- Karina Xavier agência LUSA 

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